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Occupying Brazil

Director: Daniel A. Rubio  /  ALJAZZERA / Viewfinder

 

Isabella tem 23 anos, mãe de três meninos, mas nenhum deles mora com ela. Isabella também não tem casa. Ela faz parte, desde os 12 anos, do movimento de ocupação de prédios abandonados na cidade de São Paulo. Occupying Brazil, documentário de 24 minutos, de Daniel A. Rubio, para o canal de televisão árabe Al Jazeera, conta a história daqueles que encontraram no movimento pela moradia, a esperança de um futuro melhor.

Mas, a pergunta que eu gostaria de fazer para você que pensa assim é que tipo de país é este onde ainda vemos tantas Isabellas? Por que insistimos em olhar o problema com uma lupa quando ele só existe por conta de uma questão social, econômica e cultural muito mais abrangente. Uma questão que engloba eu, você, as Isabellas e todo o resto da sociedade.

Cristina Livramento

Link Materia da Jornalista Cristina Livramento

                                   Link  para site TVAljazeera

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TANTA GENTE SEM CASA, TANTA CASA SEM

por Maria do Carmo Caçador e Matheus Marestoni


 

Brasil, um país que foi do céu ao inferno num piscar de olhos. A crise econômica fez o país fechar postos de trabalho. Existem mais de 23 milhões de desempregados, subempregados ou ainda pessoas que perderam as esperanças de encontrar uma nova chance. Jovens foram obrigados a largar os estudos e sem preparo não encontram colocação no mercado de trabalho. Esse é o quadro que se pinta em cores sombrias. A esperança de anos atrás desapareceu e nem faz muito tempo.


 

Parece que foi ontem que o mundo estava com os olhos virados para o país que sediou, em 2014, a Copa do Mundo da FIFA. Promessas e esperanças invadiam os corações e mentes de cada cidadão brasileiro. As cores vibrantes pareciam ter voltado a brilhar. Nos idos de junho de 2013, o povo finalmente havia tomado as rédeas de seu destino. Houve uma efervescência política com diversas jornadas de lutas. Porém, a crise política e econômica instalada apagaram os movimentos de reação. Sem fôlego e oportunidades na vida, os grupos emudeceram. As vozes foram caladas.

Até aí nenhuma novidade, principalmente para aqueles que nasceram em meio à invisibilidade do sistema. Quem vive na exclusão sabe que a resistência às desigualdades e a luta por direitos não tiveram um início tão recente quanto alguns pensam. Esta é a marca de seus antepassados: bisavós, avós, pais e filhos. Uma luta que parece não ter fim.


 


 

O documentário de Daniel A Rubio mostra essa luta e resistência.

Da exclusão de um sistema financeiro, fez-se a união; da imensa desigualdade social, a solidariedade; da gentrificação, a resistência.

Nesse cenário em ebulição, grupos que lutam pelo direito à moradia tirara a venda dos olhos da sociedade e fizeram-na enxergar o problema: Há centenas de prédios desocupados, fechados, mudos, sem vida, enquanto há milhares de famílias sem um teto para transformá-los em lares.


 

Ao ter como recorte central a (des)estrutura familiar de uma menina de 20 anos, negra, pobre e com dois filhos, o filme de Daniel A. Rubio faz automaticamente um retrato humano ainda oculto de inúmeras outras pessoas marginalizadas pela sociedade.

A experiência de acompanhar momento a momento o cotidiano de uma ocupação na área central da maior cidade da América Latina, e que atualmente sofre um forte processo de especulação imobiliária, é relevante para compreender principalmente a força política dos movimentos populares.


 

As conquistas sociais mostram que os objetivos só são alcançados por meio da luta. E a luta se estende em várias frentes, inclusive a de destruir a imagem preconceituosa que alguns têm das ocupações de prédios ociosos. O filme vai além de discutir a legalidade ou ilegalidade desse tipo de ação, e sim o processo de transformar as cidades em um ambiente pensado para o bem das pessoas, e não do mercado. O filme mostra o direito à cidade. Cidade feita por todas as pessoas que nela vivem, indistintamente.


 

Nos muros de uma das tantas outras ocupações localizadas na área central de São Paulo, existe uma pichação afirmativa que diz: “Tanta casa sem gente, tanta gente sem casa”. E é verdade.

De acordo com últimos dados divulgados pela Secretaria Municipal de Habitação a cidade possui 1.385 imóveis ociosos, que estão abandonados, subtilizados ou terrenos sem edificações, que poderiam servir de moradia para parte das famílias sem teto.

A partir da história de uma jovem alagoana, o documentário mostra a questão sob a ótica de que a terra é de todos, sendo assim, é preciso desconstruir a lógica especulativa e apoiar a resistência ao mercado imobiliário que os movimentos vem fazendo. Além disso, essas ocupações também fazem valer o direito ao centro, lutando contra a segregação sócio espacial.

É importante perceber como os integrantes dos movimentos de ocupação vivenciam todo o processo, desde os trabalhos de base sobre a temática da moradia, passando pelo rompimento da tranca que fecha o portão principal dos prédios, até o receio de uma possível reintegração de posse realizada pela Polícia Militar. Mas essas etapas em que aparecem o medo e a periculosidade são dissolvidas em meio ao cotidiano daquelas trabalhadoras e trabalhadores, mães e pais, filhas e filhos, avós, crianças e idosos que transformam um prédio abandonado em um espaço digno para se viver.

Atualmente, na cidade de São Paulo, existem diferentes movimentos de ocupação que são regidos pelas mais diversas vertentes ideológicas, incluindo as libertárias ou até mesmo as mais institucionalizadas. No filme, o recorte é feito a partir da Frente de Luta por Moradia (FLM). Por mais que, em alguns momentos, seja perceptível a ausência dos princípios da autogestão e da horizontalidade nos processos de decisão e de ação do grupo, as pessoas que o compõe fazem valer, por meio da ação direta, a máxima de “quando morar é um privilégio, ocupar é um dever”.

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"OCCUPYING BRAZIL"


 

Entre os prédios da maior cidade da América Latina existem milhares de pessoas esquecidas pelos indicadores econômicos da economia brasileira. São Paulo é o espelho de um paradoxo: Apesar de ser conhecida como a cidade das oportunidades, não há mais moradias a preços acessíveis, por outro lado, sobram centenas de propriedades abandonadas, sem uso.

Famílias de trabalhadores de baixa renda enfrentam a situação extrema de ficar sem teto por conta de aumento dos aluguéis.

Existe um movimento (FLM ) de trabalhadores em situação de vulnerabilidade social e econômica, que procuram soluções e ocupam estes prédios, como forma de pressionar as autoridades para criar projetos de moradia popular. Eles vivem na insegurança de serem despejados, seja pelo Estado ou pelos donos dos imóveis. Isabella é uma, entre milhares de pessoas, que estão ocupando estes prédios. São pessoas que desesperadamente acreditam nestas ações como a única esperança de ter um futuro, no mundo de promessas de um Brasil em desenvolvimento.

 

 

 

Occupying  Brazil  o Olhar do Diretor De Daniel A Rubio 

      

No  documentário Occupying Brazil, tudo parece normal.

Depois de mais de uma década de prosperidade econômica e esperança (entre 2002  e 2014),  mais de 40 milhões de pessoas foram integradas ao mercado consumidor. No entanto, os indicadores econômicos estão ainda longe de representar a realidade da maioria dos brasileiros.

Este filme é sobre uma parte diferente do Brasil. É sobre aquelas pessoas que continuam a viver na sombra destes indicadores econômicos produzidos (e excluídos) pela globalização.

 Há 16 anos comecei a filmar histórias sobre movimentos sociais no Brasil. Em todos os cantos deste país continental, os movimentos sociais parecem ser a resposta para a lacuna histórica entre ricos e pobres, e a única alternativa para os excluídos é a união para tentar resolver suas necessidades básicas e fazer a diferença para o futuro de suas vidas.

 

 

 

Ocupying Brasil foi feito para revelar essas pessoas, suas histórias, seus desejos, carências e descobrir como são suas vidas no dia a dia.

 Estas são famílias que vivem  e trabalham no coração da maior cidade do hemisfério ocidental  e ainda assim permanecem excluídas da conversa pública, sem voz na mídia,  isoladas de um público que muitas vezes nem sabe que elas existem. Eles são refugiados econômicos, deslocados pelas novas fortunas de sua nação.

Quando há uma ocupação de um prédio abandonado, a mídia noticia, mas no dia seguinte eles são esquecidos mais uma vez.

Eu me encontrei com esses ocupantes: famílias trabalhadoras que não podem mais pagar seus aluguéis nos centros urbanos do Brasil;

Um membro do movimento de ocupação colocou desta forma:

 "É uma maneira de forçar a distribuição de renda". Ocupam-se para pressionar as autoridades a desenvolver programas habitacionais acessíveis no Brasil.

Trabalhadores de baixa renda que moravam em cortiços, pagando altos aluguéis, organizaram-se e, a partir de 1997, começaram ocupar prédios abandonados na cidade. Para exercer esta pressão, nas ocupações, eles não pagam aluguel e o dinheiro escasso que eles ganham é usado para comida e outras necessidades básicas.

Este filme é a história de Isabella. Ela é uma daquelas pessoas envolvidas neste movimento porque não tem um lugar para viver para ela e para os seus três filhos.

Na vida de Isabella tudo isso parece estranhamente normal - morar em um prédio em ruínas, viver no subemprego, viver com uma situação insustentável para sua família. Isabella tem que tomar decisões que afetarão sua vida e a vida de seus filhos.

Por meio de Isabella, contamos a história de milhares de pessoas que permanecem esquecidas e marginalizadas no Brasil, no coração da maior e mais rica cidade da América Latina. Esta é uma história em que, para os marginalizados da globalização como Isabella, tudo parece ser normal.

 

 

 

uma entrevista   com Daniel A. Rubio                                                                                                          

 

Daniel A. Rubio é produtor e diretor independente de documentários focados em questões sociais e ambientais, mora há 20 anos em São Paulo. Há 18 ele acompanha os movimentos de ocupação.

 

O que te levou a se interessar pelo movimento de ocupação em São Paulo?

Conheci o movimento de luta por moradia em 2002 e, desde esse tempo, só cresce. Parece que quanto maior a marginalização econômica maior a necessidade de se organizar. A experiência de fazer Occupying Brazil surgiu da interesse em saber quem são essas pessoas que moram  em meio desse emaranhado de prédios e que muitas vezes nem sabemos da sua existência.

 

As famílias são organizadas de que maneira?

Existem vários grupos em diferentes partes da cidade, Centro de São Paulo e também na periferia. Estes grupos se organizam a partir do movimento Frente de Luta por Moradia (FLM) e executam ações planejadas coletivamente para pressionar e negociar moradias populares para membros do movimento com os governos municipal, estadual e federal.

 

Isabella é de Alagoas. A maioria das famílias são migrantes ou são paulistanos?

Bom, São Paulo é uma cidade de migrantes. A maioria das pessoas que participam destes movimentos são de outros estados ou são filhos de migrantes. São pessoas que trabalham e fazem parte da São Paulo globalizada, participam da economia, mas devido às grandes diferenças sociais, econômicas e históricas do Brasil, seus salários não são suficientes para pagar um aluguel por uma moradia digna.

 

Onde, atualmente, está Isabella?

Isabella ainda continua com sua vida instável, passa tempos com seus familiares e volta às ocupações. A força desta história é que existem milhares de Isabellas, que seguem suas vidas entre um bico e outro, entre um canto para morar e outro. São grupos esquecidos pelo desenvolvimento econômico, mundos à parte dos meios de comunicação de massa, à parte da vida da cidade, da vida cultural e política

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